terça-feira, janeiro 13, 2009

Antigas Tecnologias de Educação ?

Comumente pensa-se que as tecnologias educacionais são apenas os artefatos modernos de computação aplicados em sala de aula: computadores, lousa digital, multimídias (TV-dvd-cdrom), Internet, Games eletrônicos, data-show ou mesmo um simples retroprojetor.

Não podemos esquecer os antigos e ainda usuais instrumentos tecnológicos que adotamos em sala de aula e que constituem tecnologias que auxiliam as práticas educacionais, mas que não são considerados como tecnológicos: o lápis e o quadro, o livro e o caderno ou folha de notas. Desejo discutir sobre o quadro branco...
O quadro se constitui num espaço visual-gráfico como recurso tecnológico no qual o(a) professor(a) expõe suas esquematizações conceituais, complementando sua práxis pedagógica oral com a escrita. Fórmulas, conceitos, exercícios, esquemas, gráficos, esboços gerais podem ser utilizados neste espaço gráfico-visual pelo(a) professor(a) dando uma dinâmica a aula. Este recurso tecnológico utilizado ainda nos ambientes educacionais estimula nos(as) alunos(as):
1) atenção à fala e à escrita do(a) professor(a);
2) prática da lecto-escrita (na medida em que se o que está no quadro e se escreve no caderno ou folha de notas);
3) apreensão de esquematização escrita de conceitos (uma estruturação de princípio-meio-fim, conceitos e perguntas, fórmulas e exemplos/questionários, etc.)
4) metalinguagem (elaboração cognitiva para ler além do que está apenas escrito de forma tão compacta. O(a) professor(a) escreve muitas vezes diversos conceitos e esquemas abreviando-os em curtas definições e classificações utilizando diversos elementos coesivos como colchetes, dois pontos, traço, travessão, barras, setas, círculos, retângulos, grifos, lápis de outras cores, etc.)

Esta última habilidade que é estimulada nos(as) alunos(as) ao ler o que está no quadro mas não se deter nele, representa uma prática que nós utilizamos no dia-a-dia e principalmente durante o processo de aprendizagem da lecto-escrita nas escolas: os elementos intratextuais e os elementos extratextuais. Tal processo mental de integrar elementos que estão no texto e fora do texto (no caso em discussão, o que está no quadro e o que está fora dele) é objeto de estudo de diversos pesquisadores na área de lingüística e psicologia, destacando-se o Modelo de Construção e Integração (CI) de Kintsch (1998).

O modelo CI proposto por Kintsch considera tanto os elementos intratextuais como os elementos extratextuais, compondo uma integração dos mesmos em duas fases: (1) construção: na qual são identificados e relacionados elementos do texto e construído um esquema mental coerente do mesmo. Essa é uma fase local, limitada ao texto; (2) integração: adiciona novas informações, o seu conhecimento de mundo, comparando o sentido do texto com uma espécie de lógica comum (o que é considerado normal e conhecido do leitor). Nessa fase, o leitor expande suas concepções, idéias, significados, não restringindo-se ao texto, mas comparando as informações, processando-as e integrando-as numa representação mental mais ampla, contribuindo para a compreensão textual.

Observamos, portanto, que o considerado simples quadro branco é uma ferramenta tecnológica importantíssima e que deu, como ainda oferece, contribuição valiosa ao processo de aprendizagem na escola. Evidentemente que tal recurso possui suas limitações, face aos recursos tecnológicos mais avançados, porque não apresenta uma dinamicidade de imagens, nem oferece sons como numa tela de computador ou mesmo em uma lousa digital. A característica do quadro branco (antes quadro negro ou verde) é seu aspecto de menor dinâmica visual coordenada apenas pelas mãos do(a) professor(a) que escreve e apaga, renovando nova escrita com palavras, fórmulas, gráficos, equações, etc. Na verdade, a tela do computador e os softwares gráficos disponíveis comumente refletem uma ampliação dos recursos de um simples quadro branco (fazendo um paralelo com o mesmo, nesta discussão), seja o Word, o Excel, o PowerPoint, acrescentando recursos de imagens dinâmicas e sons que podem agora serem apresentados sobre uma tela através do data-show.

Podemos também questionar que, embora tenha ocorrido o avanço tecnológico do recurso (do quadro branco para o data-show), muitas vezes a prática docente continua estática e antiquada, utilizando um conjunto de recursos avançados (um software como o PowerPoint, os instrumentos de data-show, computadores, caixas de som) como se fosse um simples quadro branco...É possível explorar mais tais recursos: utilizando vídeos, imagens e músicas adequadas, etc para que o(a) aluno(a) possa ser mais estimulado ao processo de ensino e aprendizagem.

Há um vídeo muito interessante com tom de humor no Youtube sobre o uso do quadro branco e o data-show, questionando a metodologia e a tecnologia. Este vídeo foi pesquisado por um dos alunos da disciplina Educação e Tecnologia que ministrei na UFPE/CAA em 2008...Procurem pelo nome Metodologia ou Tecnologia no link de pesquisa do Youtube ao lado e se divirtam criticamente também.

Bibliografia:

KINTSCH, W. (1998). Comprehension: A paradigm for cognition. Cambridge: Cambridge Uniserity Press.

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